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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

"INICIO DA UMBANDA"

 Curso de Umbanda
HISTÓRIA DA UMBANDA

No final de 1908, Zélio Fernandino de Moraes, um jovem rapaz com 17 anos de idade, que preparava-se para ingressar

na carreira militar na Marinha, começou a sofrer estranhos "ataques". Sua família, conhecida e tradicional na cidade de Neves,

estado do Rio de Janeiro, foi pega de surpresa pelos acontecimentos.

Esses "ataques" do rapaz, eram caracterizados por posturas de um velho, falando coisas sem sentido e desconexas,

como se fosse outra pessoa que havia vivido em outra época. Muitas vezes assumia uma forma que parecia a de um felino

lépido e desembaraçado que mostrava conhecer muitas coisas da natureza.

Após examiná-lo durante vários dias, o médico da família recomendou que seria melhor encaminhá-lo a um padre, pois

o médico (que era tio do paciente), dizia que a loucura do rapaz não se enquadrava em nada que ele havia conhecido.

Acreditava mais, era que o menino estava endemoniado.

Alguém da família sugeriu que "isso era coisa de espiritismo" e que era melhor levá-lo à Federação Espírita de Niterói,

presidida na época por José de Souza. No dia 15 de novembro, o jovem Zélio foi convidado a participar da sessão, tomando

um lugar à mesa.

Tomado por uma força estranha e alheia a sua vontade, e contrariando as normas que impediam o afastamento de

qualquer dos componentes da mesa, Zélio levantou-se e disse: "Aqui está faltando uma flor". Saiu da sala indo ao jardim e

voltando após com uma flor, que colocou no centro da mesa. Essa atitude causou um enorme tumulto entre os presentes.

Restabelecidos os trabalhos, manifestaram-se nos médiuns kardecistas espíritos que se diziam pretos escravos e índios.

O diretor dos trabalhos achou tudo aquilo um absurdo e advertiu-os com aspereza, citando o "seu atraso espiritual" e

convidando-os a se retirarem.

Após esse incidente, novamente uma força estranha tomou o jovem Zélio e através dele falou: _"Porque repelem a

presença desses espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens. Será por causa de suas origens sociais e

da cor ?"

Seguiu-se um diálogo acalorado, e os responsáveis pela sessão procuravam doutrinar e afastar o espírito desconhecido,

que desenvolvia uma argumentação segura.

Um médium vidente perguntou: _"Por quê o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação

de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram, quando encarnados, são claramente atrasados? Por quê fala deste modo, se

estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome irmão?

_"Se querem um nome, que seja este: sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque para mim, não haverá

caminhos fechados."

_"O que você vê em mim, são restos de uma existência anterior. Fui padre e o meu nome era Gabriel Malagrida.

Acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da Inquisição em Lisboa, no ano de 1761. Mas em minha última

existência física, Deus concedeu-me o privilégio de nascer como caboclo brasileiro."

Anunciou também o tipo de missão que trazia do Astral:

_"Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã (16 de novembro) estarei na casa de

meu aparelho, às 20 horas, para dar início a um culto em que estes irmãos poderão dar suas mensagens e, assim,

cumprir missão que o Plano Espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a

igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados.”

O vidente retrucou: _"Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto" ? perguntou com ironia. E o espírito já

identificado disse:

_"Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei".

Para finalizar o caboclo completou:

_"Deus, em sua infinita Bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal, rico ou pobre, poderoso ou

humilde, todos se tornariam iguais na morte, mas vocês, homens preconceituosos, não contentes em estabelecer

diferenças entre os vivos, procuram levar essas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte. Porque não

podem nos visitar esses humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas socialmente

importantes na Terra, também trazem importantes mensagens do além?"

No dia seguinte, na casa da família Moraes, na rua Floriano Peixoto, número 30, ao se aproximar a hora marcada, 20:00

h, lá já estavam reunidos os membros da Federação Espírita para comprovarem a veracidade do que fora declarado na véspera;

estavam os parentes mais próximos, amigos, vizinhos e, do lado de fora, uma multidão de desconhecidos.

Às 20:00 h, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que naquele momento se iniciava um novo

culto, em que os espíritos de velhos africanos que haviam servido como escravos e que, desencarnados, não encontravam

campo de atuação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas em sua totalidade para os trabalhos de

feitiçaria; e os índios nativos de nossa terra, poderiam trabalhar em benefício de seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a

cor, a raça, o credo e a condição social.

A prática da caridade, no sentido do amor fraterno, seria a característica principal deste culto, que teria por base o

Evangelho de Jesus.

O Caboclo estabeleceu as normas em que se processaria o culto. Sessões, assim seriam chamados os períodos de

trabalho espiritual, diárias, das 20:00 às 22:00 h; os participantes estariam uniformizados de branco e o atendimento seria

gratuito. Deu, também, o nome do Movimento Religioso que se iniciava: UMBANDA – Manifestação do Espírito para a

Caridade.

A Casa de trabalhos espirituais que ora se fundava, recebeu o nome de Nossa Senhora da Piedade, porque assim como

Maria acolheu o filho nos braços, também seriam acolhidos como filhos todos os que necessitassem de ajuda ou de conforto.

Ditadas as bases do culto, após responder em latim e alemão às perguntas dos sacerdotes ali presentes, o Caboclo das

Sete Encruzilhadas passou a parte prática dos trabalhos.

O caboclo foi atender um paralítico, fazendo este ficar curado. Passou a atender outras pessoas que haviam neste local,

praticando suas curas.

Nesse mesmo dia incorporou um preto velho chamado Pai Antônio, aquele que, com fala mansa, foi confundido como

loucura de seu aparelho e com palavras de muita sabedoria e humildade e com timidez aparente, recusava-se a sentar-se junto

com os presentes à mesa dizendo as seguintes palavras:

"_ Nêgo num senta não meu sinhô, nêgo fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nêgo deve arrespeitá."

Após insistência dos presentes fala:

"_Num carece preocupá não. Nêgo fica no toco que é lugá di nego."

Assim, continuou dizendo outras palavras representando a sua humildade. Uma pessoa na reunião pergunta se ele sentia

falta de alguma coisa que tinha deixado na terra e ele responde:

"_Minha caximba. Nêgo qué o pito que deixou no toco. Manda mureque busca."

Tal afirmativa deixou os presentes perplexos, os quais estavam presenciando a solicitação do primeiro elemento de

trabalho para esta religião. Foi Pai Antonio também a primeira entidade a solicitar uma guia, até hoje usadas pelos membros da

Tenda e carinhosamente chamada de "Guia de Pai Antonio".

No dia seguinte, verdadeira romaria formou-se na rua Floriano Peixoto. Enfermos, cegos etc. vinham em busca de cura

e ali a encontravam, em nome de Jesus. Médiuns, cuja manifestação mediúnica fora considerada loucura, deixaram os

sanatórios e deram provas de suas qualidades excepcionais.

A partir daí, o Caboclo das Sete Encruzilhadas começou a trabalhar incessantemente para o esclarecimento, difusão e

sedimentação da religião de Umbanda. Além de Pai Antônio, tinha como auxiliar o Caboclo orixá Malé, entidade com grande

experiência no desmanche de trabalhos de baixa magia.

Em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas recebeu ordens do Astral Superior para fundar sete tendas para a

propagação da Umbanda. As agremiações ganharam os seguintes nomes: Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia; Tenda

Espírita Nossa Senhora da Conceição; Tenda Espírita Santa Bárbara; Tenda Espírita São Pedro; Tenda Espírita Oxalá, Tenda

Espírita São Jorge; e Tenda Espírita São Gerônimo. Enquanto Zélio estava encarnado, foram fundadas mais de 10.000 tendas a

partir das mencionadas.

Embora não seguindo a carreira militar para a qual se preparava, pois sua missão mediúnica não o permitiu, Zélio

Fernandino de Moraes nunca fez da religião sua profissão. Trabalhava para o sustento de sua família e diversas vezes

contribuiu financeiramente para manter os templos que o Caboclo das Sete Encruzilhadas fundou, além das pessoas que se

hospedavam em sua casa para os tratamentos espirituais, que segundo o que dizem parecia um albergue. Nunca aceitara ajuda

monetária de ninguém era ordem do seu guia chefe, apesar de inúmeras vezes isto ser oferecido a ele.

Ministros, industriais, e militares que recorriam ao poder mediúnico de Zélio para a cura de parentes enfermos e os vendo

recuperados, procuravam retribuir o benefício através de presentes, ou preenchendo cheques vultosos. "_Não os aceite.

Devolva-os!", ordenava sempre o Caboclo.

A respeito do uso do termo espírita e de nomes de santos católicos nas tendas fundadas, o mesmo teve como causa o

fato de naquela época não se poder registrar o nome Umbanda, e quanto aos nomes de santos, era uma maneira de estabelecer

um ponto de referência para fiéis da religião católica que procuravam os préstimos da Umbanda. O ritual estabelecido pelo

Caboclo das Sete Encruzilhadas era bem simples, com cânticos baixos e harmoniosos, vestimenta branca, proibição de

sacrifícios de animais. Dispensou os atabaques e as palmas. Capacetes, espadas, cocares, vestimentas de cor, rendas e lamês

não seriam aceitos. As guias usadas são apenas as que determinam a entidade que se manifesta. Os banhos de ervas, os amacis,

a concentração nos ambientes vibratórios da natureza, a par do ensinamento doutrinário, na base do Evangelho, constituiriam

os principais elementos de preparação do médium.

O ritual sempre foi simples. Nunca foi permitido sacrifícios de animais. Não utilizavam atabaques ou qualquer outros

objetos e adereços. Os atabaques começaram a ser usados com o passar do tempo por algumas das Tendas fundadas pelo

Caboclo das Sete Encruzilhadas, mas a Tenda Nossa Senhora da Piedade não utiliza em seu ritual até hoje.

Após 55 anos de atividades à frente da Tenda Nossa Senhora da Piedade (1º templo de Umbanda), Zélio entregou a

direção dos trabalhos as suas filhas Zélia e Zilméa, continuando, ao lado de sua esposa Isabel, médium do Caboclo Roxo, a

trabalhar na Cabana de Pai Antônio, em Boca do Mato, distrito de Cachoeiras de Macacu – RJ, dedicando a maior parte das

horas de seu dia ao atendimento de portadores de enfermidades psíquicas e de todos os que o procuravam.

Em 1971, a senhora Lilia Ribeiro, diretora da TULEF (Tenda de Umbanda Luz, Esperança, Fraternidade – RJ) gravou

uma mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, e que bem espelha a humildade e o alto grau de evolução desta entidade de

muita luz. Ei-la:

"A Umbanda tem progredido e vai progredir. É preciso haver sinceridade, honestidade e eu previno sempre aos

companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a Umbanda; médiuns que irão se vender e que serão, mais

tarde, expulsos, como Jesus expulsou os vendilhões do templo. O perigo do médium homem é a consulente mulher; do

médium mulher é o consulente homem. É preciso estar sempre de prevenção, porque os próprios obsessores que

procuram atacar as nossas casas fazem com que toque alguma coisa no coração da mulher que fala ao pai de terreiro,

como no coração do homem que fala à mãe de terreiro. É preciso haver muita moral para que a Umbanda progrida,

seja forte e coesa. Umbanda é humildade, amor e caridade – esta a nossa bandeira. Neste momento, meus irmãos, me

rodeiam diversos espíritos que trabalham na Umbanda do Brasil: Caboclos de Oxossi, de Ogum, de Xangô. Eu, porém,

sou da falange de Oxossi, meu pai, e não vim por acaso, trouxe uma ordem, uma missão. Meus irmãos: sejam humildes,

tenham amor no coração, amor de irmão para irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos

espíritos superiores que venham a baixar entre vós; é preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos

afinados com as virtudes que Jesus pregou aqui na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para

aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de Umbanda. Meus irmãos: meu aparelho já está velho, com 80 anos a

fazer, mas começou antes dos 18. Posso dizer que o ajudei a casar, para que não estivesse a dar cabeçadas, para que

fosse um médium aproveitável e que, pela sua mediunidade, eu pudesse implantar a nossa Umbanda. A maior parte dos

que trabalham na Umbanda, se não passaram por esta Tenda, passaram pelas que saíram desta Casa. Tenho uma coisa

a vos pedir: se Jesus veio ao planeta Terra na humildade de uma manjedoura, não foi por acaso. Assim o Pai

determinou. Podia ter procurado a casa de um potentado da época, mas foi escolher aquela que havia de ser sua mãe,

este espírito que viria traçar à humanidade os passos para obter paz, saúde e felicidade. Que o nascimento de Jesus, a

humildade que Ele baixou à Terra, sirvam de exemplos, iluminando os vossos espíritos, tirando os escuros de maldade

por pensamento ou práticas; que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz possa reinar

em vossos corações e nos vossos lares. Fechai os olhos para a casa do vizinho; fechai a boca para não murmurar contra

quem quer que seja; não julgueis para não serdes julgados; acreditai em Deus e a paz entrará em vosso lar. É dos

Evangelhos. Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à Terra, mas amigo de todos, numa concentração

perfeita dos companheiros que me rodeiam neste momento, peço que eles sintam a necessidade de cada um de vós e que,

ao sairdes deste templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos melhorados e curados, e a saúde

para sempre em vossa matéria. Com um voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e caridade, sou e sempre

serei o humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas".

Zélio Fernandino de Moraes dedicou 66 anos de sua vida à Umbanda, tendo retornado ao plano espiritual em 03 de

outubro de 1975, com a certeza de missão cumprida. Seu trabalho e as diretrizes traçadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas

continuam em ação através de suas filhas Zélia e Zilméa de Moraes, que têm em seus corações um grande amor pela

Umbanda, árvore frondosa que está sempre a dar frutos a quem souber e merecer colhê-los.

Neste imóvel, localizado na rua Floriano Peixoto, nº 30, em Neves, Niterói – RJ

iniciou-se a religião de Umbanda, anunciada no dia 16 de novembro de 1908, pelo

Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Cabana do Pai Antônio - Neste espaço Umbandista, Zélio Fernandino de Moraes dava

segmento aos trabalhos caritativos, através do iluminado e querido Preto Velho Pai Antônio.

Localizava-se em Boca do Mato, Distrito de Cachoeiras de Macacu – RJ.

Zélia e Zilméa de Moraes Filhas do saudoso Zélio Fernandino de Moraes, na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade,

localizada na Rua Teodoro da Silva, nº 997 – RJ

 
O QUE É A UMBANDA
Vejamos o que nos diz o Aurélio:

Verbete: umbanda

[Do quimb. umbanda, 'magia'.] S. m.

1. Bras. Forma cultual originada da assimilação de elementos religiosos afro-brasileiros pelo espiritismo brasileiro urbano;

magia branca.

2. Bras., RJ. Folcl. Grão-sacerdote que invoca os espíritos e dirige as cerimônias de macumba. [Var.: embanda.]

UMBANDA é religião !

 
Se dentro da Umbanda conseguimos nos religar com Deus, conseguimos tirar o véu que cobre nossa ignorância da

presença de Deus em nosso íntimo, então podemos chamar nossa fé de Religião. Como mais uma das formas de sentir Deus

em nossa vida, a Umbanda cumpre a função religiosa se nos levar à reflexão sobre nossos atos, sobre a urgência de

reformularmos nosso comportamento aproximando-o da prática do Amor de Deus.

A Umbanda é uma religião lindíssima, e de grande fundamento, baseada no culto aos Orixás e seus servidores:

Crianças, Caboclos, Preto-velhos e Exus. Estes grupos de espíritos estão na Umbanda "organizados" em linhas: Caboclos,

Preto-velhos, Crianças e Exus. Cada uma delas com funções, características e formas de trabalhar bem específicas, mas todas

subordinadas as forças da natureza que os regem, os ORIXÁS.

Na verdade a Umbanda é bela exatamente pelo fato de ser mista como os brasileiros, por isso é uma religião totalmente

brasileira.

Mas, torna-se imperioso, antes de ocuparmo-nos da Anunciação da Umbanda no plano físico sob a forma de religião,

expor sinteticamente um histórico sobre os precedentes religiosos e culturais que precipitaram o surgimento, na 1ª década do

século XX, da mesma. Em 1500, quando os portugueses avistaram o que para eles eram as Índias, em realidade Brasil, ao

desembarcarem depararam-se com uma terra de belezas deslumbrantes, e já habitada por nativos. Os lusitanos, por imaginarem

estar nas Índias, denominaram a estes aborígines de índios.

Os primeiros contatos entre os dois povos foram, na sua maioria, amistosos, pois os nativos identificaram-se com alguns

símbolos que os estrangeiros apresentavam. Porém, o tempo e a convivência se encarregaram em mostrar aos habitantes de

Pindorama (nome indígena do Brasil) que os homens brancos estavam ali por motivos pouco nobres.

O relacionamento, até então pacífico, começa a se desmoronar como um castelo de areia. São inescrupulosamente

escravizados e forçados a trabalhar na novel lavoura. Reagem, resistem, e muitos são ceifados de suas vidas em nome da

liberdade. Mais tarde, o escravizador faz desembarcar na Bahia os primeiros negros escravos que, sob a égide do chicote, são

despejados também na lavoura. Como os índios, sofreram toda espécie de castigos físicos e morais, e até a subtração da própria

vida.

Desta forma, índios e negros, unidos pela dor, pelo sofrimento e pela ânsia de liberdade, desencarnavam e encarnavam

nas Terras de Santa Cruz. Ora laborando no plano astral, ora como encarnados, estes espíritos lutavam incessantemente para

humanizar o coração do homem branco, e fazer com que seus irmãos de raça se livrassem do rancor, do ódio, e do sofrimento

que lhes eram infligidos.

Além disso, muitas das crianças índias e negras, eram mortas, quando meninas (por não servirem para o trabalho

pesado), quando doentes, através de torturas quando aprontavam suas “artes” e com isso perturbavam algum senhor. Algumas

crianças brancas, acabavam sendo mortas também, vítimas da revolta de alguns índios e negros.

Juntando-se então os espíritos infantis, os dos negros e dos índios, acabaram formando o que hoje, chamamos de:

Trilogia Carmática da Umbanda. Assim, hoje vemos esses espíritos trabalhando para reconduzir os algozes de outrora ao

caminho de Deus.

A igreja católica, preocupada com a expansão de seu domínio religioso, investiu covardemente para eliminar as

religiosidades negra e índia. Muitas comitivas sacerdotais são enviadas, com o intuito "nobre" de "salvar" a alma dos nativos e

dos africanos.

A necessidade de preservar a cultura e a religiosidade, fez com que os negros associassem as imagens dos santos

católicos aos seus Orixás, como forma de burlar a opressão religiosa sofrida naquela época, e assim continuar a praticar e

difundir o culto as forças da natureza, a esta associação, deu-se o nome de "Sincretismo religioso".

O candomblé iorubá, ou jeje-nagô, como costuma ser designado, congregou, desde o início, aspectos culturais

originários de diferentes cidades iorubanas, originando-se aqui diferentes ritos, ou nações de candomblé, predominando em

cada nação tradições da cidades ou região que acabou lhe emprestando o nome: queto, ijexá, efã. Esse candomblé baiano, que

proliferou por todo o Brasil, tem sua contrapartida em Pernambuco, onde é denominado xangô, sendo a nação egba sua

principal manifestação, e no Rio Grande do Sul, onde é chamado batuque, com sua nação oió-ijexá (Prandi, 1991). Outra

variante ioruba, esta fortemente influenciada pela religião dos voduns daomeanos, é o tambor-de-mina nagô do Maranhão.

Além dos candomblés iorubas, há os de origem banta, especialmente os denominados candomblés angola e congo, e aqueles de

origem marcadamente fom, como o jeje-mahim baiano e o jeje-daomeano do tambor-de-mina maranhense.

Os anos sucedem-se. Em 1889 é assinada a "lei áurea". O quadro social dos ex-escravos é de total miséria. São

abandonados à própria sorte, sem um programa governamental de inserção social. Na parte religiosa seus cultos são quase que

direcionados ao mal, a vingança e a desgraça do homem branco, reflexo do período escravocrata. No campo astral, os espíritos

que tinham tido encarnação como índios, caboclos (mamelucos), cafuzos e negros, não tinham campo de atuação nos

agrupamentos religiosos existentes. O catolicismo, religião de predominância, repudiava a comunicação com os mortos, e o

espiritismo (kardecismo) estava preocupado apenas em reverenciar e aceitar como nobres as comunicações de espíritos com o

rótulo de "doutores". Os Senhores da Luz (Orixás), atentos ao cenário existente, por ordens diretas do Cristo Planetário (Jesus)

estruturaram aquela que seria uma Corrente Astral aberta a todos os espíritos de boa vontade, que quisessem praticar a

caridade, independentemente das origens terrenas de suas encarnações, e que pudessem dar um freio ao radicalismo religioso

existente no Brasil.

Começa a se plasmar, sob a forma de religião, a Corrente Astral de Umbanda, com sua hierarquia, bases, funções,

atributos e finalidades. Enquanto isto, no plano terreno surge, no ano de 1904, o livro Religiões do Rio, elaborado por "João do

Rio", pseudônimo de Paulo Barreto, membro emérito da Academia Brasileira de Letras. No livro, o autor faz um estudo sério e

inequívoco das religiões e seitas existentes no Rio de Janeiro, àquela época, capital federal e centro socio-político-cultural do

Brasil. O escritor, no intuito de levar ao conhecimento da sociedade os vários segmentos de religiosidade que se desenvolviam

no então Distrito Federal, percorreu igrejas, templos, terreiros de bruxaria, macumbas cariocas, sinagogas, entrevistando

pessoas e testemunhando fatos. Não obstante tal obra ter sido pautada em profunda pesquisa, em nenhuma página desta

respeitosa edição cita-se o vocábulo Umbanda, pois tal terminologia era desconhecida.

A formação histórica do Brasil incorporou a herança de três culturas : a africana, a indígena e a européia. Este processo

foi marcado por violências de todo o tipo, particularmente do colonizador em relação aos demais. A perseguição se deveu a

preconceitos e a crença da elite brasileira numa suposta alienação provocada por estes cultos nas classes populares.

No início do século XX, o choque entre a cultura europeizada das elites e a cultura das classes populares urbanas,

provocou o surgimento de duas tendências religiosas na cidade do Rio de Janeiro. Na elite branca e na classe média vigorava o

catolicismo ; nos pobres das cidades (negros, brancos e mestiços) era grande a presença de rituais originários da África que,

por força de sua natureza e das perseguições policiais, possuíam um caráter reservado.

Na segunda metade deste século, os cultos de origem africana passaram a ser freqüentados por brancos e mulatos

oriundos da classe média e algumas pessoas da própria elite. Isto contribuiu, sem dúvida, para o caráter aberto e legal que estes

cultos vêm adquirindo nos últimos anos.

Esta mistura de raças e culturas foi responsável por um forte sincretismo religioso, unificando mitologias a partir de

semelhanças existentes entre santos católicos e orixás africanos, dando origem ao Umbandismo.

Ao contrário do Candomblé, a Umbanda possui grande flexibilidade ritual e doutrinária, o que a torna capaz de adotar

novos elementos. Assim o elemento negro trouxe o africanismo (nações); os índios trouxeram os elementos da pajelança; os

europeus trouxeram o Cristianismo e o Kardecismo; e, posteriormente, os povos orientais acrescentaram um pouco de sua

ritualística à Umbanda. Essas cinco fontes criaram o pentagrama umbandista:

Os seguidores da Umbanda verdadeira só praticam rituais de Magia Branca, ou seja, aqueles feitos para melhorar a vida

de determinada pessoa, para praticar um bem, e nunca de prejudicar quem quer que seja. Os espíritos da Quimbanda (Exus)

podem, no entanto, ser invocados para a prática do bem, contanto que isso seja feito sem que se tenha que dar presentes ou

dinheiro ao médium que os recebe, pois o objetivo do verdadeiro médium é tão somente a prática da caridade.

Algumas casas de Umbanda homenageiam alguns Orixás do Candomblé, como por exemplo: Oxumarê, Ossãe, Logun-

Edé. Mas os mesmos, na Umbanda, não incorporam e nem são orixás regentes de nenhum médium.

Nós temos os nossos guias de trabalho e entre eles existe aquele que é o responsável pela nossa vida espiritual e

por isso é chamado de guia chefe, normalmente é um caboclo, mas pode ser em alguns casos um preto-velho.

Cristianismo

Kardecismo

Africanismo

Indianismo

Orientalismo

Aspectos Dominantes do Movimento Umbandista

1. Ritual, variando pela origem

2. Vestes, em geral brancas

3. Altar com imagens católicas, pretos velho, caboclos

4. Sessões espíritas, formando agrupamentos em pé, em salões ou terreiro

5. Desenvolvimento normal em corrente

6. Bases; africanismo, kardecismo, indianismo, catolicismo, orientalismo.

7. Serviço social constante nos terreiros

8. Finalidade de cura material e espiritual

9. Magia branca

10. Batiza, consagra e casa

Ritual

A Umbanda não tem, infelizmente, um órgão centralizador, que a nível nacional ou estadual, dite normas e conceitos

sobre a religião ou possa coibir os abusos. Por isso cada terreiro segue um ritual próprio, ditado pelo guia chefe do terreiro, o

que faz a diferenciação de ritual entre uma casa e outra. Entretanto, a base de todo terreiro tem que seguir o principio básico do

bom senso, da honestidade e do desinteresse material, além de pregar, é claro, o ritual básico transmitido através dos anos pelos

praticantes.

O mais importante, seria que todos pudessem encontrar em suas diferenças de culto, o que seria o elo mais

importante e a ele se unissem. Tal elo é a Caridade!

Não importa se o atabaque toca, ou se o ritmo é de palmas, nem mesmo se não há som. O que importa é a

honestidade e o amor com que nos entregamos a nossa religião.





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